Momento Azul 005 - TGO

  MOMENTO AZUL __________ .  

Você já se sentiu assim? - por Thiago Zazatt

Estão seguindo você.

A sensação é a mais estranha de todas, aparentemente você consegue até ouvir os passsos, primeiro o seu e, logo após, os passos de quem te segue. A vontade e a curiosidade de olhar para trás tomam conta dos seus pensamentos e a respiração fica devagar, parece que até o piscar dos olhos é em câmera lenta, falta saliva. Em qualquer outra situação você já teria virado a cabeça em direção ao som que ouve, já teria olhado de onde vem. Hoje é diferente. Não quer ser vista, não queria nem mesmo ter sido notada. Queria uma ausência social ou, se pudesse, seria invisível. É, pelo jeito, já te viram.

Você corre. Tentou apenas acelerar os passos mas, quando viu, já estava correndo. Esse medo que você nunca sentiu antes, essa disposição que você nem sabia que ainda tinha. Quem é que consegue correr de salto? Não achou que fosse capaz de quase voar. Um desespero gigantesco toma conta de você, o vento contra o rosto, as folhas das árvores da rua, as pessoas... Muitas pessoas! Será que ninguém está vendo isso? É estranho, parece que ninguém está disposto a ajudar (em que mundo vivemos?), ou mesmo, nem você consegue crer que seja possível alguém oferecer auxílio nessas horas. Desespero.

Finalmente é possível ver seu o carro. Gostaria de ter estacionado mais perto. Já imaginando onde é que possa ter colocado às chaves, começa a vasculhar a bolsa em desespero ainda maior. Rápido, rápido. Será que não é possível fazer isso mais rápido? Por que será que uma bolsa tão pequena consegue ser tão gigante quando a gente tem pressa de encontrar algo? Se pelo menos, tão somente, você pudesse parar e procurar com calma. Que agonia, que desespero, que raiva. Dá vontade de gritar. Uma estranha vontade de chorar.

No limite de suas forças, no auge de sua coragem, na ânsia pela vida, você bruscamente e com violência se vira com um grito pronto, alto e agudo: Aaaaaaaaaaah!

O mundo para. As pessoas param. Dá a sensação de que até os carros da rua param. Os pombos que estavam voando, o senhorzinho que vende picolés num carrinho colorido, aquele que estava engraxando os sapatos, as pessoas das lojas próximas, os guardas de trânsito e até os estudantes que se espremiam para entrar num ônibus semi-lotado; estão todos agora olhando pra você. Um grito que te alivia e ao mesmo tempo te envergonha - A VONTADE EXTREMA DE VIVER! Uma mistura injusta e imperfeita que te torna o centro das atenções do universo.

O silêncio é quebrado por palavras que você nunca mais irá esquecer em toda sua existência. Palavras que ferem o orgulho, que matam a situação, que embriagam sua sensatez e que balançam suas estruturas. Apenas quatro palavras que te fazem sentir a pior das criaturas na face da Terra - pelo menos naquele momento. Quem dera então fosse um desconhecido, um pedinte, que fosse um engano ou até que fosse mesmo um bandido, um assassino, um maníaco. Poderia ser um zumbi, um monstro, um alien. Que fosse uma sensação apenas. Mas não; tinha que ser o auxiliar de coloração capilar do salão de beleza, sem fôlego, suado e tremendo, balançando algo na mão e dizendo quase gaguejando: - Se-Senhora, esqueceu suas chaves!


Thiago Zazatt - Não é fotógrafo. Apenas coleciona emoções, sentimentos e sensações que as fotos podem carregar. É marido da dona desse blog, está passando apenas pra falar isso e pode voltar à qualquer momento. A ordem era contribuir... aos poucos vou contribuindo.

0 comentários. Deixe seu comentário::

Postar um comentário



Topo